Wednesday, February 09, 2005

América

Este texto já tem um tempito, mas como toda a gente disse que estava bom, quis postá-lo na sua totalidade, e não resumido como vai aparecer no MDI. Até éstá girito...

Pela primeira vez fui tentado a acompanhar as eleições americanas, principalmente porque neste ano estava em causa a possibilidade de o nosso caro Mr. Bush ser ou não reeleito. Que Mr. Bush fica mais 4 anos na Casa Branca, já sabemos, não que isso me entristeça muito; Kerry não me parecia ter muito mais carácter que Bush, pelo menos já sabemos com o que podemos contar com este no poder: muita merda. O que mais me chocou foi sem dúvida a maneira como a campanha foi feita dos 2 lados. Ainda considera o povo português o seu país de Terceiro Mundo? Então que dizer dos EUA, terra dos livres, lar dos bravos? Campanhas reles e completamente desprovidas de sentido, onde o que importava valorizar a imagem dos candidatos (ainda que esta não seja grande coisa), e não discutir o que era importante para o país e para o mundo, pois de certa maneira são os EUA que governam o mundo. Importava saber o que Kerry fez na guerra do Vietname, e na maneira como Bush fez cara de mau aos terroristas? Ou seja limitavam-se a vangloriar-se a si mesmos e a ofender o adversário, nada mais; é política americana meus amigos, política esta que toma como maior símbolo a liberdade, que de tão admirada viria a ser uma referência para todas as primeiras constituições liberais do século XIX, quando pela primeira vez se falou de tal ideal. É esta a liberdade em que os americanos acreditam, pois é por ela que se deixam reger, deixando-se cair nestes jogos mentais que só desvalorizam o seu próprio intelecto: é a guerra das aparências, onde é mais importante parecer do que ser. Quem se importa afinal o que cada candidato pode fazer para melhorar o país, quando é muito mais interessante saber qual das aspirantes a primeira dama cozinha melhor? E se os americanos concordam com isto, quem somos nós, meros labregos deste jardim à beira mar plantado para os contradizer? «We’re all living in America!» dizem os Rammstein. Não nos gerimos pelos mesmos pretensos ideais de liberdade que tanto apregoam os americanos? Roupas de marca americana, música americana, filmes americanos, os próprios ideais... Os nossos (pretensos) ideais de revolta são-nos transmitidos por americanos, simplesmente pelo facto de a rebeldia (ou aparente rebeldia) ser algo de bastante comercializável. Os americanos não sabem o que é liberdade, confundem-na com libertinagem. A diferença é que libertinagem é uma liberdade irresponsável, sem respeito pela liberdade dos outros, enquanto que ter liberdade, é podermos fazer as nossas escolhas tendo unicamente como limitação o respeito pelos outros seres humanos, e pelas decisões que estes possam tomar. Um exemplo flagrante da libertinagem que nos é chega diariamente dos EUA é a banalização do corpo a um simples instrumento de sexo. Não se trata de condenar o sexo em si, mas apenas na maneira em como ele é abordado nos nossos dias: puro prazer e nada mais que prazer, dum lado o macho do outro a fêmea, ambos com necessidades básicas à espera de serem satisfeitas. Aonde está o amor, alma, e todo o tipo de sentimentos que nos diferenciam dos animais? São escondidos; o prazer é melhor, mais fácil de obter, mas que também dura menos tempo. Um pequeno pormenor. Repare-se ainda que quem procura este tipo de relacionamentos instantâneos, não tem maturidade, nem inteligência para pensar no que está a fazer, nem percebe até que ponto abandona a própria dignidade por algo que nem ele mesmo sabe: limita-se a dar seguimento àquilo que ouve e que vê todos os dias. A falta de maturidade e de racionalidade foram sempre os motivos dos radicalismos. Tal como o sexo fácil, nos radicalismos, deixar-nos guiar pela raiva é mais simples, do que pela razão. E por esta raiva mata-se, tortura-se, para muitas vezes, no fim, cairmos nos ideais contra os quais lutamos. A teoria é tão bonita, e a mente da sociedade tão pobre. Mas é isto que comemos todos os dias, e o pior é que gostamos. A América é de facto a terra da liberdade e a liberdade está morta.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

és o maior meu!
é isso mesmo!

7:55 AM  

Post a Comment

<< Home