A MENTALIDADE DE UM POVO

Acho curioso quando se afirma a ignorância do povo português. É verdade que o nível de cultura costuma andar sempre lá por baixo, mas também temos de compreender que Portugal teve alguns «traumas históricos» na sua mentalidade cujos efeitos ainda se fazem sentir. Entre os casos mais importantes contam-se a Inquisição e a ditadura de Salazar. Fora a Inquisição ter virado a mentalidade portuguesa para a «missinha» e mais nada, contribuiu para o afastamento de um povo de grande cultura, nomeadamente, económica: os Judeus. Quanto á ditadura acho que nem é preciso dizer nada. De resto, se há virtude que os portugueses não se podem gabar de ter é a de saber eleger os seus governantes. De vez em quando acerta. E é por isso que andamos sempre no mesmo ciclo vicioso. É que o português quer soluções imediatas para tudo. Os projectos a longo prazo são menosprezados quer pela população, quer pelo poder político, que se não agradar ao Zé Povinho espeta-se nas eleições seguintes. É por isso que os investimentos na ciência ficam sempre para segundo plano, e o investimento de capital em coisas novas é visto com desconfiança. Uma das medidas a longo prazo que vai sendo deixada de parte é a educação. Não houve até aos nossos dias uma verdadeira aposta na educação. Quanto muito reforma-se o ensino, não para a melhoria deste, mas para a melhoria da situação financeira do Estado. Ora há dois níveis de formação intelectual para uma pessoa: a escola, quando jovem, e os media quando adulto. Se a educação não prepara verdadeiramente uma pessoa para a vida, e os media são de uma autêntica miséria informativa, como que é que as pessoas deste país se podem querer inteligentes? Sendo bem formadas na escola, pronto, ainda teriam sensatez para distinguir a boa da má informação. Mas se não nos dão hipóteses de escolham, e se a educação continua completamente desfasada das necessidades reais do país, que raio de geração será a futura? Para que não haja gente estúpida, é preciso também que não hajam programas, revistas, etc, que estupidifiquem a inteligência das pessoas. Os media só se preocupam em vender muito e bem, a qualidade é secundária, e enquanto não houver qualidade na informação, nunca haverá gente verdadeiramente capaz no comando deste país, porque foram eleitos por pessoas nem sempre com a devida inteligência para escolher entre um ou outro político. Diga-se também que esta degradação da inteligência acaba também por afectar os próprios políticos, que já não se preocupam com a verdadeira solução dos problemas, mas apenas em encher o bolso. Não acredito que nos últimos tempos os nosso governantes tenham sido as pessoas mais indicadas para o lugar que ocuparam, mas como os mais capazes são suficientemente espertos para «fugirem» para o estrangeiro e «em terra de cegos, quem tem olho é rei» é normal que Portugal seja este «fim-de-mundo». É um ciclo vicioso como já disse. Enquanto não houverem pessoas verdadeiramente capazes de lutar por este país, no lugar onde devem lutar, continuaremos a andar em círculos. E o mundo não espera por este pequeno país chamado Portugal. Os portugueses são ignorantes e têm mentalidade preconceituosa e retrógrada? É possível, mas não têm culpa.